18 de abril de 2015

Que Figura - Esquete apresentada no Shopping Benfica.


Esquete: Que Figura
Personagem Gorrinho: 
Texto: João Pedro Roriz
Direção: Robinson Aragão
Produção: Cia Viv'arte

Wilbert Santos e Jorge Felix
DIÁRIO DO GORRINHO – O complexo de figura de linguagem aguda!
VOVO GERMÁSIO E O COMPLEXO DA FIGURA DE LINGUAGEM AGUDA
  João Pedro Roriz 

            Essa semana, meu avô Germásio chegou de mala e cúia para morar com a gente. Ele era um trabalhador rural e vivia no interior do Estado. Minha mãe me falou que ele nunca teve oportunidade de estudar. Aposentado, sentiu a necessidade de correr atrás do prejuízo e agora está matriculado em uma escola para adultos. Eu faço companhia a ele e de vez em quando, dou uma forcinha nos estudos.
           Ontem, eu descobri uma peculiaridade do meu avô: ele adora reclamar de dores que não existem. Com um termômetro na boca e uma bolsa de água fria na cabeça, ele tentava me convencer de seu súbito mal estar:
        – Ai, eu estou mal, muito mal, preciso ser internado urgentemente.
        Minha mãe já havia me dado instruções de como agir em um caso como esse. Tirei o termômetro da sua boca e disse:
        – O médico já te examinou, vô. O senhor está muito bem! Cuidado para não ficar hipocondríaco, hein!
      – Mas Gorrinho, toda vez que eu almoço, eu perco o meu apetite! E você sabe que a perda do apetite é sinal de doença. Afinal de contas, eu já estou vivo há um milhão de anos.
       – Ai vovô! – exclamei. – A única coisa que o senhor tem é o complexo da figura de linguagem aguda.
           – E o que é isso? – assustou-se o homem. – Algum problema no pâncreas?
           – Não vovô! O senhor é só um pouquinho exagerado. Adora uma hipérbole.
           – E o que é hipérbole? Alguma inflamação intracraniana? – indagou o homem extremamente preocupado.
          – Não vovô – respondi com toda a paciência do mundo. – Hipérbole é o exagero. Quando o senhor diz que já viveu um milhão de anos, está cometendo uma hipérbole.
           – Ah, sei. Mas isso é contagioso?
           – Não vovo, é muito saudável até. O senhor conhece o eufemismo?
           – Conheço sim, conheço sim! É uma doença que ataca os rins.
         – Não vovô. Que mania de doença! Eufemismo é uma figura de linguagem que nós usamos para suavizar uma expressão. Ao invés de dizer que o senhor está gordo, eu diria que o senhor está “forte”.
          – Foi o diabetes que me engordou – resmungou o homem.
          Eu dei um tapa na própria testa:
          – Foi só um exemplo, vô! Agora, uma aliteração: “vovô viu a varíola vascular volátil”. Que tal?
         Vovô Germásio se escondeu debaixo dos cobertores.
         – Eita! Eu já devo estar com o pé na cova! Varíola é muito perigosa.
         Mais uma vez eu tentei explicar:
        – Não vovô. “Aliteração” é quando usamos vários fonemas parecidos em uma única frase. O Chico Buarque adora usar aliteração em suas canções. É o caso da música “Pedro Pedreiro”. Ele diz: “pedro pedreiro penseiro esperando o trem”.
          Mas não tinha jeito. Meu avô estava com idéia fixa:
         – Trem polui o ar e poluição ataca o pulmão! Cof, cof, cof! Eu acho que tenho bronquite alérgica.
          Eu estava quase desistindo de conversar com o meu avô quando tive uma ótima ideia.
         – Ah, o senhor não sabe quem vem nos visitar hoje.
         – O médico? – indagou Germásio, feliz da vida.
         – Não. A Gertrudes, aquela viúva simpática do oitavo andar.
       Em cinco minutos, meu avô estava fora da cama, com o seu melhor terno, os cabelos penteados e uma flor na mão para esperar pela vizinha.
        – Tá bonitão hein, vovô! – eu disse.
        – Não sou seu avô hoje, garoto. Sou no máximo um primo de segundo grau.
        – Pensei que tivesse alergia a flores – impliquei.
        – Só quando elas me espetam o coração, como Gertrudes, minha flor.
        – Ei, você usou uma metáfora! – eu disse, surpreso.
        Germásio pensou um pouco e respondeu:
        – Não. Não preciso de pílulas para ser romântico.



Que Figura: Obra Registrada no nome de João Pedro Roriz.

Texto, interpretado na ocasião a comemoração a semana da 
LITERATURA INFANTIL - 
SHOPPING BENFICA - FORTALEZA.





Bastidores.


Jorge Felix
Patrícia Nunes
Wilbert Santos

Foto: @Robinson Aragão.

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