Esquete: Que Figura
Personagem Gorrinho:
Texto: João Pedro Roriz
Direção: Robinson Aragão
Produção: Cia Viv'arte
DIÁRIO DO GORRINHO – O complexo
de figura de linguagem aguda!
VOVO GERMÁSIO E O COMPLEXO DA
FIGURA DE LINGUAGEM AGUDA
João
Pedro Roriz
Essa semana, meu avô Germásio chegou de mala e cúia para morar com a gente. Ele
era um trabalhador rural e vivia no interior do Estado. Minha mãe me falou que
ele nunca teve oportunidade de estudar. Aposentado, sentiu a necessidade de
correr atrás do prejuízo e agora está matriculado em uma escola para adultos.
Eu faço companhia a ele e de vez em quando, dou uma forcinha nos estudos.
Ontem,
eu descobri uma peculiaridade do meu avô: ele adora reclamar de dores que não
existem. Com um termômetro na boca e uma bolsa de água fria na cabeça, ele
tentava me convencer de seu súbito mal estar:
– Ai, eu estou mal, muito mal, preciso ser internado urgentemente.
Minha mãe já havia me dado instruções de como agir em um caso como esse. Tirei
o termômetro da sua boca e disse:
– O médico já te examinou, vô. O senhor está muito bem! Cuidado para não ficar
hipocondríaco, hein!
– Mas Gorrinho, toda vez que eu almoço, eu perco o meu apetite! E você sabe que
a perda do apetite é sinal de doença. Afinal de contas, eu já estou vivo há um
milhão de anos.
– Ai vovô! – exclamei. – A única coisa que o senhor tem é o complexo da figura
de linguagem aguda.
– E o que é isso? – assustou-se o homem. – Algum problema no pâncreas?
– Não vovô! O senhor é só um pouquinho exagerado. Adora uma hipérbole.
– E o que é hipérbole? Alguma inflamação intracraniana? – indagou o homem
extremamente preocupado.
– Não vovô – respondi com toda a paciência do mundo. – Hipérbole é o
exagero. Quando o senhor diz que já viveu um milhão de anos, está cometendo uma
hipérbole.
– Ah, sei. Mas isso é contagioso?
– Não vovo, é muito saudável até. O senhor conhece o eufemismo?
– Conheço sim, conheço sim! É uma doença que ataca os rins.
– Não vovô. Que mania de doença! Eufemismo é uma figura de linguagem que nós
usamos para suavizar uma expressão. Ao invés de dizer que o senhor está gordo,
eu diria que o senhor está “forte”.
– Foi o diabetes que me engordou – resmungou o homem.
Eu dei um tapa na própria testa:
– Foi só um exemplo, vô! Agora, uma aliteração: “vovô viu a varíola vascular
volátil”. Que tal?
Vovô Germásio se escondeu debaixo dos cobertores.
– Eita! Eu já devo estar com o pé na cova! Varíola é muito perigosa.
Mais uma vez eu tentei explicar:
– Não vovô. “Aliteração” é quando usamos vários fonemas parecidos em uma única
frase. O Chico Buarque adora usar aliteração em suas canções. É o caso da
música “Pedro Pedreiro”. Ele diz: “pedro pedreiro penseiro esperando o trem”.
Mas não tinha jeito. Meu avô estava com idéia fixa:
– Trem polui o ar e poluição ataca o pulmão! Cof, cof, cof! Eu acho que tenho
bronquite alérgica.
Eu estava quase desistindo de conversar com o meu avô quando tive uma ótima
ideia.
– Ah, o senhor não sabe quem vem nos visitar hoje.
– O médico? – indagou Germásio, feliz da vida.
– Não. A Gertrudes, aquela viúva simpática do oitavo andar.
Em cinco minutos, meu avô estava fora da cama, com o seu melhor terno, os
cabelos penteados e uma flor na mão para esperar pela vizinha.
– Tá bonitão hein, vovô! – eu disse.
– Não sou seu avô hoje, garoto. Sou no máximo um primo de segundo grau.
– Pensei que tivesse alergia a flores – impliquei.
– Só quando elas me espetam o coração, como Gertrudes, minha flor.
– Ei, você usou uma metáfora! – eu disse, surpreso.
Germásio pensou um pouco e respondeu:
– Não. Não preciso de pílulas para ser romântico.
Texto, interpretado na ocasião a comemoração a semana da
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Bastidores. |
Jorge Felix
Patrícia Nunes
Wilbert Santos
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