O desmoronamento da moral burguesa do século XIX, quando somente os maiores
talentos obtinham com muita dificuldade direito de cidadania, permite enfim
ao ator chegar a uma posição social normal.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhDiRlONdfuLesQzJ3HLSxewsAECaiJZ7uZoDmtbDjqPf5tn29riW44zsFlv2mH5hsxTaaoJoQgCfLEnT-oWE2qFXU1ZHngAwH5Cr3Ra-3rkFN7WflLiEPSxHj8vtn-4JeJcpMGtVKm_oq8/s1600/21821_937530356310060_558511212354513431_n.jpg) |
Igor Mota e Wilbert Santos |
A
revolução social dos anos vinte faz dele um trabalhador da cultura de
vanguarda. São os anos em que o construtivismo, liberando a arte dos
miasmas do idealismo, fascina o mundo por sua doutrina de uma arte
concebida como fator de organização dinâmica da vida e da sociedade.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgiRiGDqSDkZA9u5g1MhFtFCVVL9fYISjGKe-xoqR-3XYyL_XTobHNt-DVixjS5b9ELFfz2aWdcX_TnDOHLSgx12qaeac05uQOl-uR9CAPiVOJ8Mj2HHziMZx4IH575GDst8Tzx64Ikoiom/s1600/10171883_937529186310177_6207337269652638608_n.jpg) |
Daniel Ganzaly e Patrícia Nunes |
À medida
que se desenvolve a civilização industrial e técnica, que a arte perde em
numerosos países sua posição de vanguarda e seu dinamismo, o teatro
transforma-se cada vez mais em uma instituição e o ator, por conseguinte,
em funcionário a ela incorporado. Os direitos que havia obtido esfacelam-se
ao contato com uma sociedade de consumo cujas idéias e existência estão
fundamentadas sobre um pragmatismo radical, o culto da eficácia e um
sentido de automatismo hostil a qualquer intervenção perturbadora da arte.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg4v50EuSgQ2qN2cngrhawlIFSQc86V3S-RrbZr8Q3n3UkYaDaX6X6OIGb1RIzYlVkuDy-uQeHZ8mLhKplTziMCgHP-OqAOJyM30KelEZiv0xYe3b-XQ8qXsTAASPQML4kv6W5wS70bgpAU/s1600/10429430_937530212976741_3968204532027241606_n.jpg) |
Matheus Lopes e Romário Leite |
A
assimilação a essa sociedade leva à surdez artística, à indiferença e ao
conformismo. Essa
decadência é acelerada pela expansão dos meios de informação de massa:
cinema, rádio, televisão.
Nesta
etapa final reencontramos atitudes que têm estado sempre próximas uma da
outra, a saber: o conformismo moral, uma indiferença absoluta quanto à
evolução das formas e também a esclerose artística.
Uma
certa laicização e a democratização do ator contribuíram para sua
emancipação histórica, mas paradoxalmente tornaram-no medíocre.
A
assimilação e a recuperação do artista e de sua arte pela sociedade de
consumo encontram um exemplo típico no ator.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiadLCkyX1KuTvoo6DVLiQm9qJPnow-_ARVanyNEoKsoIaSnvIrYqLsctF0u4vZER2xW7F4uSvEImG3ljEDJIA9n_9mgkKpbT4uePc-hAToy_y0majQ34-dV-JR2ajb_jfjWdZjMBDjbYIt/s1600/10433144_937530079643421_8469072236363841629_n.jpg) |
Marcílio Alves e Lucas Vasconcelos |
O
ator-artista foi desarmado, aprisionado. Sua capacidade de resistência, tão
importante para ele mesmo quanto para o papel que desempenha na sociedade,
foi destruída, o que o leva a obedecer a todas as conveniências e leis que
regem o bem-estar na sociedade de produção e de consumo, a perder sua
independência, que é o que, colocando-o fora da comunidade, permite-lhe
agir sobre ela.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLVUTfPP_p04VccHb6gbe4CIjzsjiAfh9Acoqx4gGecyQCApbdWvgDFG8xkGbVs63fY9gg3b_R1O1v-FgxWo5joFAF-tUJTsWJ_afypH7QIdESeuE3Hd4_xUmHG4rB1Mjl4FEn8DQ5Xr3O/s1600/11068304_937530036310092_8187740954552595743_n.jpg) |
Marília Alves e Eduardo Gabriel |
A
reforma do teatro e da arte do ator deve realizar-se em profundidade e
tocar os fundamentos do ofício.
Durante
um longo período de isolamento social, a atitude e a condição do ator
carregaram a marca profunda de traços naturalmente saídos do mais secreto
de seu psiquismo, que o distinguem da sociedade bem pensante e fazem
nascer, por sua vez, formas autônomas de ação cênica.
Esbocemos
uma imagem dessa personagem:
-
O ATOR
- Retrato nu do homem, exposto a qualquer transeunte, silhueta elástica.
- O ator, forasteiro, exibicionista desavergonhado, simulador fazendo demonstração de lágrimas, de riso, de funcionamento de todos os órgãos, dos vértices do espírito, do coração, das paixões, do ventre do pênis, o corpo exposto a todos os estimulantes, todos os perigos e todas as surpresas; engodo, modelo artificial de sua anatomia e de seu espírito, renunciando à dignidade e ao prestígio, atraindo os desprezos e os escárnios, tão perto das lixeiras quanto da eternidade, rejeitado pelo que é normal e normativo em uma sociedade.
- Ator que vive unicamente no imaginário, levado a um estado de insatisfação crônica e de insaciabilidade perante tudo aquilo que existe realmente, fora do universo da ficção, que o compele a uma nostalgia perpétua constrangendo-o a uma vida nômade.
- Ator forasteiro, eterno errante sem lar nem lugar, buscando em vão o porto,
carregando em suas bagagens todo o seu bem, suas esperanças, suas ilusões perdidas, o que é sua riqueza e sua carga, uma ficção que ele defende zelosamente até as últimas conseqüências contra a intolerância de um mundo indiferente.
In "Le Théâtre de la Mort". Editions L'Age d'Homme,
Lausanne, 1977, p. 162-165. Tradução de Roberto Mallet.
Aula: Robinson Aragão
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